Já nasci em um contexto de exclusão e já vivenciei diversas formas de exclusão. Querem um bom roteiro para um filme melodramático? Vamos tomar uma cervejinha juntos que eu posso te contar vários. Mas me recuso a ficar calado frente a qualquer tipo de injustiça. “A injustiça em algum lugar é uma ameaça para a justiça em todos os lugares”. (Martin Luther King) Prefiro criar um roteiro coerente sem dramas e clichês da minha própria inserção sócio-cultural e artística na Rede Municipal de Ensino e no seio mais amplo da sociedade da qual sou “párticipe” de sua criação do que ser medíocre; massa amorfa em um aglomerado de pessoas que não conseguem se destacar por qualidades e talentos, e que passam a vida gastando suas energias tentando eclipsar a Luz dos outros. Seres incapazes de humildemente reconhecer a necessidade iminente de nossa sociedade da união de nossas forças e luzes individuais em prol do bem comum e da reconstrução de nossa caótica realidade social.
O caos da Mostra de 2005 e sua condução organizacional resultaram em 2006 na perda do espaço do teatro do colégio Capitão Lemos Cunha que era vandalizado por “nossos” alunos que estimulados por apresentadores completamente fora da realidade promoviam a disputa na audiência como se o teatro fosse o maracanã ou uma arena de gladiadores. Ou seja, a formação de platéia não partia da experiência vivida na escola e nem da organização descontextualizada do evento. E no palco, raros eram os trabalhos que promoviam uma reflexão diferenciada da realidade e que fomentavam uma visão expansiva da experiência em arte/educação, tanto dos atores sociais envolvidos na mostra na sua versão “artistas”, quanto nos atores sociais envolvidos na sua versão “público” e o que é pior, nos atores sociais envolvidos na sua versão “organizadores”.
Ver alunos de todas as séries reproduzindo tendências impostas pela mídia sem a menor reflexão era lamentável. Crianças especiais expostas sem nenhum critério coerente, simplesmente justificando a sandice da exposição como inclusão social era de dar dó. Não sei se das crianças ou dos responsáveis por aquela situação.
E olha que foram várias as vezes que no decorrer do ano vi circular as questionáveis oficinas de dança para professores da rede (pelo menos nesse contexto incoerente), onde alguém muito bem apadrinhado na SME e recebendo uma boa verba aparecia para dar oficinas aos professores da Rede Municipal. Pelo amor de Deus! E no final quando se esperava um resultado diferenciado. A mesma sandice generalizada.
Ou seja. Não faltaram motivos para que a administração do colégio capitão Lemos Cunha repensasse urgentemente a má utilização de seu equipamento cultural e no ano seguinte nos víssemos no impasse. Onde será a mostra de Dança da 4ª CRE em 2007?
As reuniões para ouvir os educadores envolvidos aconteciam e uma lista de necessidades para a viabilização do evento surgia. Alguns professores queriam prioridade no transporte já que suas escolas estavam em área de risco. Qual a que não está na 4ª CRE? Outros queriam seis, outros queriam meia dúzia, e assim as reuniões terminavam sem um direcionamento concreto para a realização do evento.
Em 2007 o chato aqui não conseguiu ficar calado e começou a virar persona nom grata. Aqueles que decidem propor, sugerir, somar e até se oferecem para ajudar na visão dos ameaçados se torna persona nom grata sempre. E eu com isso! Estava em jogo a dignidade das crianças da Maré e a coerência do processo educacional e além do mais do resultado de um trabalho realizado a duras penas durante o ano sem condições e sem apoio, portanto cansei de ficar calado e resolvi falar um pouco mais. O resultado foi positivo! Como a 4ª CRE havia perdido o teatro anterior; queria realizar a Mostra de Dança no teatro da escola Anita Garibaldi. Como eu não conhecia e ficava ao lado da 4ª CRE fui lá todo serelepe ver o espaço onde a nova coreografia “O Elixir da Vida” do Ciep Operário Vicente Mariano seria apresentada. Quase desmaiei!
Com todo respeito à unidade escolar citada. Na ocasião o teatro não oferecia a mínima condição para a realização de um evento dessa magnitude. Baixei, rodei, saravei e consegui provocar uma mudança de endereço para a Mostra de Dança da 4ª CRE sugerindo o teatro do CT da UFRJ onde tive a oportunidade de vivenciar experiências fantásticas, tanto enquanto público, como enquanto artista, nos áureos tempos da gestão do saudoso reitor Horácio de Macedo. Que saudades! Mínima coerência da 4ª CRE e que deveria ser prática da SME buscar parcerias efetivas com a UFRJ. Isso é assunto para o meu próximo artigo.
Temendo algum imprevisto como por exemplo: a ausência de um datashow ou outra tecnologia necessária para apresentação que pretendia mostrar; fui antecipadamente ao espaço em fase de montagem e humildemente acenei que o fundo neutro do palco beneficiaria as produções apresentadas. Olha minha experiência em dança em eventos nacionais e internacionais gritando. Mas de quê adiantava?
Colocaram uma coisa no fundo do palco que ninguém sabia se era um saci ou um ET que bem poderia estar em outro lugar menos ali; e então consegui antes da minha apresentação baixar sob os olhares tortos da organização a cenografia inoportuna que todos os trabalhos tiveram que ter. Menos o meu graças a Deus. Vejam o vídeo da apresentação no youtube que apesar do datashow solicitado um mês antes em reunião na CRE teve que ser emprestado por uma outra professora de uma escola que prevendo o pior levou o seu próprio e então acabei merecendo esse carinho dela. Imagina só o nível de organização! Será que nas outras CREs também é assim? Com certeza não.
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