ALERTA DE TSUNAMI NA MARÉ - PARTE II

Contexto institucionalizado como “complexo” pelos técnicos da administração pública, o complexo da Maré possui pelo menos 15 unidades escolares da 4ª CRE que atendem aos seus moradores. Tanto na própria comunidade, quanto nas adjacências.

Trabalhei como pioneiro da dança, enquanto complementação pedagógica na formação do ator social na Maré, em várias unidades escolares da comunidade coordenando as oficinas culturais que foram a base da estruturação do Programa de Crianças da Petrobras do qual fui educador de 1999 até 2003, quando motivos políticos me levaram a redirecionar minhas relações e ações na afirmação da identidade e da cidadania na Maré. Portanto conheço como poucos o panorama da realidade das escolas da Maré como educador e como ator social.

Perguntem-me por que decidi solicitar à Secretaria de Educação minha lotação no Ciep Operário Vicente Mariano quando fui mandado para Realengo?

Foi lá que encontrei a resistência educacional às práticas tiranas de algumas instituições governamentais e não governamentais que, dirigidas por verdadeiros abutres; exploram as mazelas, as problemáticas e as carências dos desassistidos moradores da Maré. Foi lá que encontrei espaço digno para exercício do meu sacro oficio; educar em um contexto tão “paradoxal”; síntese da nossa cultura, a “Favela” - que revela nossas riquezas e potencialidades sócio-culturais e artísticas, mas que também revela as feridas do nosso corpo social enfermo.

Independente de partidarismo político, as conquistas das gestões anteriores e os avanços alcançados jamais poderiam ser ignorados se estivéssemos pensando no Bem Comum; e como se trata de um assunto de capital importância para a base do funcionamento harmônico de nossa sociedade – a Educação; todas as ações deveriam ser amplamente pensadas e discutidas entre os envolvidos para que o desenvolvimento social se manifeste, aqui agora, com projeções e conseqüências positivas para o porvir.

As soluções administrativas encontradas pelas gestões anteriores, certas ou equivocadas dos problemas; devem ser analisadas sim, mas o revanchismo de só buscar erros onde muitos acertos impulsionaram o avanço visível; é uma prática desprezível que mina as possibilidades da coerência nas políticas públicas do Brasil que dão o tom da desordem estabelecida.
Ou você acha que está tudo na mais perfeita ordem?


A “intervenção” deve ser feita sim! Mas nas Coordenadorias Regionais que por conveniência política naquele então dizia sim às práticas que a nova gestão acha que deveria ter dito não.

Estão querendo realmente colocar ordem e promover a afirmação da cidadania na Maré ou só se apoderar de uma ótima vitrine eleitoral, o outrora organizado Ciep Operário Vicente Mariano que fazia a diferença e que agora é apenas mais uma “Escola do Amanhã” cravada no famigerado encontro da linha vermelha com a linha amarela?

A visita da senhora secretária ( técnica ) da educação à unidade escolar; elogiando o espaço e a andamento harmônico, que já não existe mais, das atividades uma semana antes da intervenção sem planejamento e coerência realizada na escola; acena que devemos ( sociedade de maneira geral ) ficar atentos às práticas e ações da nova gestão administrativa da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro que pretende terceirizar, aqui entendido como “clientelizar” a administração pública.

Tá vendo no que deu ignorar a importância do seu voto trocando o exercício da cidadania por um final de semana estrategicamente prorrogado? Perdeu! Perdeu!

Olhando a mediocridade à volta e a covardia de muitos me sinto forte para gritar. Nasci para trabalhar criativamente contra as injustiças e medo algum da maldade alheia tenho, por que “tudo posso naquele que me fortalece”.

Não sou a mão interesseira articulada “politicamente”, parceira de instituições nacionais e internacionais, que vem cheia de pseudo-poder e bondade falsa do asfalto dar esmola aos pobres.

Sou um corpo em movimento exercitando a cidadania, um ator social, nascido e criado aqui, impulsionado pela indignação contra as injustiças e pela certeza de que Ser Humano é a única coisa que vale a pena nessa breve passagem pela Escola da vida .

Medo?

Só tenho é de ser medíocre.

Decididamente não combina comigo.